domingo, 13 de agosto de 2017

FAMOSOS

Baby do Brasil: 'Não nasci para ser adulta'


Baby do Brasil agora tem uma nova banda, cujo nome homenageia Jimy Hendrix: a Baby do Brasil Experience Foto: Marcos Hermes
Baby do Brasil agora tem uma nova banda, cujo nome homenageia Jimy Hendrix: a Baby do Brasil Experience - Marcos Hermes
São quase três da manhã. Num estúdio no Cosme Velho, uma longa sessão de fotos tem fim. Todos estão exaustos, menos a modelo. Baby do Brasil quer mais retratos, mais poses, mais looks. “Temos material, confia no seu amigo”, diz o fotógrafo Marcos Hermes. A cantora aceita. Mas iria até o sol nascer.
Aos 65 anos, Baby parece conservar a energia da garota de 20 que saltitava pelo sítio coletivo da banda Novos Baianos em Jacarepaguá. A vida está corrida: formou uma banda, a Baby do Brasil Experience, está compondo para um novo disco, tem feito shows de três horas. Hoje, neste domingo, ainda estreia no “Dança dos famosos”, quadro do “Domingão do Faustão”.
— Parece o coelho da Duracell! — brinca seu empresário, Afonso Carvalho.
Dias antes do último aniversário, em 18 de julho, ela não havia se dado conta da data. De uma hora para outra, quis comemorar em grande estilo. A festa foi na casa de um amigo, na Gávea. Mas antes teve este ensaio fotográfico, inspirado nas aventuras espaciais de “Barbarella”, filme de 1968 com Jane Fonda, que também parecia uma festa. Segundo Baby, as fotos destas páginas são um presente para os fãs.
— Tem duas coisas que gosto de fazer que ninguém gosta: tirar foto e experimentar roupa — diz a cantora, compositora e pastora da igreja que ela mesma criou, o Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome do Senhor Jesus Cristo. — Imagina se acreditei que ia fazer 65? Nunca achei que esse dia ia chegar. Não nasci para ser adulta. Estou em ebulição. Me sigam!
A bebê Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade nasceu em Niterói, em 1952. Filha do jurista Luís Carlos Cidade e da jornalista Carmem Menna Barreto, interessada em canto e violão, a jovem fugiu de casa no seu 17º aniversário. Foi para Salvador, onde conheceu Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Moraes Moreira, com quem formaria os icônicos Novos Baianos em 1969. A banda trouxe também o guitarrista Pepeu Gomes, com quem fez vários hits e seis filhos (o casal se separou em 1991). Envolvido na gravação de seu novo disco, Pepeu não respondeu aos contatos para esta reportagem.
A prole é de cantoras e músicos. Por nascimento: Sarah Sheeva (ex-Riroca, 1973), Zabelê (1975), Nãna Shara (1976), Pedro Baby (1978), Krishna Baby (apelido: Xaxá, 1984) e Kriptus Baby (o Pitico, 1985). Em 1991, veio a neta Rannah Sheeva, filha de Sarah. Por falar em nomes, a matriarca mudou o seu duas vezes: no início, adotou Baby Consuelo, referência ao filme “Meteorango Kid”. Desde 1994, ela é do Brasil.

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São quase três da tarde. Baby chega atrasada para a entrevista marcada no restaurante Fasano Al Mare, em Ipanema, próximo ao seu apartamento. Apressada, ela dá boa tarde, senta, diz que não almoçou, pede salada caesar e suco de tangerina, tira os óculos escuros, respira e diz: “Tenho algo para confessar.”
Baby tinha passado a noite anterior, dia 7, em claro. Foi à festa de 75 anos de Caetano Veloso, realizada no apartamento de Paula Lavigne. Mas o aniversário do compositor baiano, ela esclarece, não teve nada a ver com o atraso. Ela chegou em casa, deitou na cama e, na hora em que estava crente que ia dormir, catou o violão e começou a fazer uma nova música.
— Comigo é assim, inspiração surge na “madruga”. Tenho que agarrar, se não vai embora. Acabei a letra de dia, jantei oito da manhã, deitei de novo, acordei uma da tarde para fazer massagem nas pernas, fui sondada para um show na Bahia, tomei um whey protein, agora vou tomar dez gramas de vitamina C em pó e por isso só cheguei agora! — diz Baby, de um só fôlego.
A canção da madrugada se chama “A geração que não envelhece”. Deve estar no próximo disco, que está sendo gestado em shows e ensaios com a Baby do Brasil Experience, uma homenagem ao trio de Jimi Hendrix.
Garimpada entre amigos, a banda roqueira tem o guitarrista Frank Solari, o tecladista Dudu Trentin e o baixista André Gomes (por serem todos do Rio Grande do Sul, a piada é que são os Novos Gaúchos). Completam o time um segundo guitarrista, Daniel Santiago, e o baterista Kiko Freitas. O produtor do projeto é Rafael Ramos, que comenta a disposição de Baby:
— Cara, é muita energia. (Risos.) E muita responsabilidade, porque, além de ela ter uma trajetória, eu sou seu fã. Quero fazer algo à altura.
Outra canção nova é “Decorando a onda”. A letra, trocadilho com a expressão “segurando a onda”, parte da experiência de Baby. Desde que se tornou evangélica, ela conta que nunca mais usou drogas nem álcool.
A artista crê que conquista fãs mais jovens justamente por conta desta postura:
— Tenho crédito porque fui maluca. Passo alegria, integridade, liberdade, tudo isso isenta de piração. A pessoa tem que descobrir a onda dela, colocar para dentro e largar o vício. Se a pessoa entende que se gosta mais eufórica, mais brincalhona, pode estar sempre nessa vibração sem recorrer a nenhuma droga.

Baby (canto superior esquerdo) com os Novos Baianos e agregrados no sítio de Jacarepaguá, nos anos 1970Foto: Divulgação

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São quase 20 anos. Sem sexo. Além da sobriedade, a fé de Baby inclui esta outra abstinência. Em dezembro, ela assumiu o primeiro relacionamento pós-Pepeu, com o ex-jogador de futbol e comentarista Casagrande. Eles terminaram em março. Sobre o fim do jejum, ela afirma: “Deus vai dar a última palavra.”
Sobre os relacionamentos de sua mãe, Zabelê brinca: "a gente tenta não se meter". Sobre a fé de Baby(e do restante da família), ela acha que o assunto ganha atenção desproporcional. Em tempo: as irmãs Sarah Sheeva e Nãna Shara, com quem nos anos 1990 ela formou o trio pop SNZ, hoje são pastoras e estrelas da música gospel.
— A religião fica em evidência porque todo mundo é famoso. Mas toda família brasileira é ecumênica. Desde sempre minha mãe acreditou numa conexão especial com Deus, só tornou isso público — diz Zabelê, que está em tour nos EUA e prepara o segundo disco solo, na linha MPB pop. — Cada um seguiu o seu caminho, o que é reflexo da criação livre que tivemos.
Zabelê se recorda da infância com os seis irmãos na grande casa que Baby e Pepê tinham no Jardim Botânico, point dos amigos (Baby era a “mãe legal”, que até emprestava roupas) e de parentes — segundo a filha, era uma forma de a mãe vigiar a prole mesmo quando estava ausente em turnê.
Hoje, Baby vive no apartamento que foi de sua mãe, que morreu em 2016. Desde que se mudou, diz que não mexeu em nada.
— É gostoso conviver com o que ela deixou. Quando lavaram as roupas dela, reclamei. Queria o cheirinho. Estou vivendo uma homenagem. É meu jeito de me despedir, até o dia em que eu cansar e em que a gente se reencontre.

Um dia que ainda está distante, a julgar pela agenda. Além da banda e do disco novos e dos ensaios diários para dançar no Faustão, Baby ainda se apresenta com os velhos Novos Baianos. Moraes Moreira comenta:
— Ela casou com Pepeu, mas tivemos uma paixão musical. Compunha para ela, ensinava cada nota no meu violão. Para o disco novo dela, já fiz música nova. Está no laptop, é só a gente se juntar e sair cantando.


Fonte: O Globo

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