quarta-feira, 9 de agosto de 2017

esporte




Mais querido do TUF, Massaranduba lembra: "Eu era meio que o 'paizão'"

Lutador relembra ajuda aos companheiros na casa, e, sem esquecer a infância pobre, conta que oferece aulas gratuitas de artes marciais a crianças carentes no Piauí

Por Rio de Janeiro

 

TUF 5anos header (Foto: Infoesporte) 

 Existem pessoas que se tornam queridas de maneira unânime devido à facilidade para lidar com os que estão em volta. Na primeira edição do TUF Brasil, não havia dúvida de quem era esse homem dentro da casa: Francisco Massaranduba. A maioria dos atletas que participaram do programa apontou o piauiense como o lutador com quem mais houve identificação. Não era para menos. Massaranduba decidiu cuidar dos companheiros como se eles fossem seus filhos. 


Francisco Massaranduba UFC Brasília (Foto: Raphael Marinho)

 

Francisco Massaranduba era o "queridinho" dos atletas no TUF Brasil 1 (Foto: Raphael Marinho)

 

- Os meninos não sabiam nem fazer comida. Eu falei: “P***, bicho…”  Eles tinham preguiça, mas eu nunca tive preguiça de nada. Até hoje o Pepey lembra, fica falando: “Pô, saudades daquele teu macarrão com carne moída”. Eu era meio que o "paizão", dava conselhos... Eu me dava bem com todo mundo, mas eu simpatizava com o Macarrão, que era o mais novo da turma, o mais molecão. Também gostava muito do Jason, que não tinha toda aquela disciplina, e até hoje não tem. Quando eu entrei na casa, tinha 83kg, então eu podia comer o que quisesse, mas tinha que ajudar os meninos. Minha função era treinar e ajudar os meninos, ajudar a perder peso. Eu fiquei mais amigo deles também porque cuidava deles, fazia comida, churrasco… Eu era o cara do churrasco. O Pepey ficava chateado porque estava sempre de dieta, aí ele reclamava porque eu fazia churrasco quase todo dia (risos). Eu falava: “Pepey, fica lá no teu quarto, vai” (risos). 

 

A predileção por Massaranduba não foi exclusiva dos moradores da casa do TUF Brasil. O lutador conta que passou a receber um carinho muito grande do público após a exibição do programa. 

 

 - Eu fui um dos caras mais queridos do TUF. Quando fui lutar com o Pé de Chumbo no UFC, encontrei uma família, incluindo uma senhora - vou levar isso pra vida toda - e essa senhora queria chorar. Ela disse: "Nunca pensei que ia te ver". Pensei: “P*** que pariu, será que mereço tudo isso?”. Quando a gente gosta de alguém, tem que ser de coração, se entregar, e ela se entregou. Que emoção que foi. Quando lutei com o Pé de Chumbo, lutei de 84 (quilos), fui felizão. Depois que encontrei com ela, pensei: ninguém vai ganhar de mim. Pé de Chumbo foi campeão (mundial) de jiu-jítsu, eu não, não tinha experiência em artes marciais, comecei a lutar depois de velho. Mesmo assim, nem ferrando ele ia ganhar de mim. A torcida estava comigo, mesmo nós dois sendo brasileiros. Acho que eu posso lutar em qualquer lugar do Brasil que eles torcem por mim. Tenho que agradecer muito a eles. É muito bom ter uma nação.

 

francisco massaranduba equipe Wanderlei Silva (Foto: Divulgação/ TUF Brasil) 

 

Francisco Massaranduba durante o TUF Brasil 1 (Foto: Divulgação/ TUF Brasil)

 

E não foi só o apoio do público que mudou na vida de Massaranduba depois do TUF. O lutador conta que conseguiu elevar o padrão de vida e ajudar a família, o que classificou como um dos grandes "presentes" que recebeu do UFC. Nascido em Amarante, no interior do Piauí, o atleta relembra a vida difícil que levava ao lado dos familiares na cidade, com o primeiro trabalho surgindo quando tinha apenas oito anos de idade.

 

Nós nunca passamos fome, meu pai botava a gente pra trabalhar de manhã e à tarde. Como vou passar fome trabalhando assim? (...) Eu não tinha calça, tênis, essas coisas boas. Eu só fui usar um tênis depois que virei homem. Era um tênis pra quatro garotos, o menor tinha que colocar papel nele. (...) Lembro uma vez que ganhei um tênis e não cabia no meu pé, tive que esperar ficar mais velho pra usar. Era um serviço pesado, comecei a trabalhar com oito anos de idade. Fome nunca passei, mas passei necessidade

 

- Eu vivia 20% e agora vivo 90%. Realizei varias coisas. Ajudei minha família, que não tinha casa própria, exceto minha mãe. Consegui mudar um pouco a vida dos meus irmãos. No nosso país, o mais difícil é ter uma casa e viver bem. Aqui só vive bem quem nasce com herança. Se você não tem, você tem que se ferrar (pra conseguir). Nós nunca passamos fome, meu pai botava a gente pra trabalhar de manhã e à tarde. Como vou 

 

passar fome trabalhando assim? Nós tínhamos a roça pra trabalhar de manhã e de tarde. Eu não tinha calça, tênis, essas coisas boas. Eu só fui usar um tênis depois que virei homem. Era um tênis pra quatro garotos. O menor tinha que colocar papel no tênis. Para vestir um short 

ou camiseta nova, os irmãos todinhos tinham que usar. Eu lembro uma vez que ganhei um tênis e não cabia no meu pé, tive que esperar ficar mais velho pra usar. A gente andava com a sandália de dedo. Era um serviço pesado, comecei a trabalhar com oito anos de idade. Até eu sair de casa, trabalhei na roça com minha família. Fome nunca passei, mas passei necessidade - revelou Massaranduba.

 

Massaranduba ARQUIVO (Foto: Arquivo Pessoal) 

Massaranduba conta que começou a lutar quando já tinha 24 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Depois de ter vivido uma infância difícil, o piauiense agarrou a chance que teve no UFC, onde permanece até hoje, cinco anos depois do programa. Com todo o sucesso que alcançou no Ultimate, o lutador tenta dar às crianças de sua cidade natal o que não teve quando era mais jovem: oportunidade. Massaranduba oferece aulas de artes marciais gratuitas a meninos e meninas de Amarante. O objetivo maior, no entanto, não é formar atletas, mas cidadãos.

 Primeira coisa que fiz quando fui para o UFC foi abrir uma academia para o meu irmão. Criança não paga. Acho que todas deveriam ser assim. (...) Que custo tem pegar um criança da rua, que pode se tornar um bandido, tirar ela do mundo da droga e colocar no esporte? (...) Eu venho de origem pobre. Você não precisa fazer um lutador, você precisa fazer um cidadão de bem. Enquanto eu tiver condições, sempre vai ter um espaço para crianças carentes

 

- Primeira coisa que fiz quando fui para o UFC foi abrir uma academia para o meu irmão. Criança não paga. Acho que todas (as academias) deveriam ser assim. Mas o ser humano não pensa assim, só pensa no próprio umbigo. Que custo tem pegar uma criança da rua, que pode se tornar um bandido, tirar ela do mundo da droga e colocar no esporte? A gente reclama do governo, mas quem pode não faz nada também. O cara faz tudo errado, mas, na hora de falar de política, quer criticar. Eu digo: “Filho da p***, você não ajuda ninguém e quer falar de política. Fica quietinho.” Se você der uma balinha e um sorriso pra uma criança todo dia, ela vai gostar de você para o resto da vida. Eu fui comer pizza depois de homem. Pizza é 

 

uma coisa normal pra qualquer pessoa. As crianças de lá também não têm acesso. Eu chamo uns 50 moleques, fecho a pizzaria e a gente come pizza. Eles só desligam a TV depois que acaba minha luta. Não custa nada tirar mil reais para ajudar. Tem gente que vai pra balada e gasta isso, não dá alegria pra ninguém. Eu venho de origem pobre. Você não precisa fazer um lutador, você precisa fazer um cidadão de bem. Enquanto eu tiver condições, sempre vai ter um espaço para crianças carentes - finalizou. 

 

Massaranduba brinca com crianças de projeto social em aula de golpes (Foto: TV Clube) 

Massaranduba brinca com crianças de projeto social em aula de golpes (Foto: TV Clube)

Jamille Bullé, estagiária, sob a supervisão de Adriano Albuquerque

globo esporte

      

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