Colapso
hídrico no DF exige captação emergencial do Lago Paranoá, dizem
especialistas
Sem obras emergenciais, o
Sistema do Descoberto, responsável por mais de 60% do abastecimento de
água do Distrito Federal, pode entrar em colapso em 2017. A conclusão é
de representantes do governo e especialistas ouvidos nesta quinta-feira
(11) pela Comissão Senado do Futuro. O objetivo da audiência era debater
as restrições no abastecimento de água no Distrito Federal e em outras
cidades do Brasil.
O presidente da comissão, senador Hélio
José (PMDB-DF), que pediu a audiência, tem criticado a decisão do
governo do Distrito Federal de captar água do Lago Paranoá para amenizar
o problema. Durante a audiência, ele criticou o fato de a bancada
federal não ter sido incluída na discussão sobre o tema. O senador disse
que é preciso investir em obras definitivas e não em uma solução
provisória.
— Não era muito mais razoável juntar todos
os esforços nossos para ajudar na construção e finalização da adutora
de Corumbá IV, para que a gente tenha rapidamente a solução definitiva
do problema e não uma obra paliativa? A captação do Lago Paranoá, além
de ser mais um elefante branco construído com os poucos recursos que
temos, ainda coloca em risco um cartão postal do Distrito Federal —
questionou.
Raquel de Carvalho Brostel, assessora de
Meio Ambiente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
(Caesb), explicou que a obra para captação de água do Lago Paranoá já
foi iniciada no dia 8 de maio, com início da operação previsto para
outubro. Ela argumentou que a estimativa é de colapso no Sistema
Descoberto ainda este ano, caso não sejam concluídas as obras
emergenciais.
— Se não tivermos obra em outubro pronta,
provavelmente o Lago Descoberto entra em colapso. Hoje, a gente está
chegando ao nível de 55%. Com o consumo e com as entradas, nós
entraríamos em colapso em setembro ou outubro. A obra emergencial era
emergencial mesmo. Nós precisávamos da captação do Paranoá e foi a
solução encontrada — esclareceu.
O professor Carlos Henrique Ribeiro Lima,
coordenador do Programa de Pós-graduação em Tecnologia Ambiental e
Recursos Hídricos da Universidade de Brasília (UnB), concorda que a
situação é alarmante. Segundo o professor, o nível atual dos
reservatórios é um dos menores, mesmo se comparado com os níveis de
outros anos no final de setembro, ou seja, depois da seca. Para ele, no
momento, não há muitas alternativas melhores que o uso da água do Lago
Paranoá.
Previsibilidade
Embora concordem com a emergência de uma
solução, os especialistas discordam sobre a possibilidade de prever, com
antecedência, a crise.
O diretor da Agência Reguladora de Águas,
Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), Diógenes
Mortari, explicou que, por maior que seja um reservatório ele sempre vai
depender da dinâmica de entrada e saída de água, que inclui as chuvas.
No Distrito Federal, destacou, já são três anos com chuvas abaixo da
média, o que aumentou o problema.
Jalles Fontoura de Siqueira, presidente
empresa responsável pelo abastecimento de água em Goiás (Saneago),
alegou que a crise não atinge apenas o Distrito Federal, mas toda a
Região Centro-Oeste. Entre as razões dessa crise no Distrito Federal e
cidades do Entorno, está o crescimento demográfico, a ocupação
desordenada e a degradação de áreas de preservação e nascentes.
O professor da UnB concorda que houve uma
diminuição drástica nas chuvas nos últimos anos, além de aumento na
temperatura. Ainda assim, ele disse que a situação vivida hoje já era
prevista desde o ano 2000.
O presidente do Conselho de Saúde do
Distrito Federal, Helvécio Pereira da Silva, demonstrou preocupação com o
impacto da crise hídrica na saúde da população. Para ele, a falta de
água e é responsabilidade de todos. O clima do Distrito Federal,
lembrou, é conhecido do governo e o mau uso da água é responsabilidade
também dos cidadãos.
Medidas de controle
O presidente da Adasa negou que tenha
havido negligência no trato do problema. Ele lembrou que a agência
intensificou o monitoramento e emitiu, em 2016, várias regulações e
medidas de controle, como o estabelecimento de limites para iniciar o
regime de restrição no consumo. Além disso, citou ações do governo para
conscientizar a sociedade sobre o tema.
Já o presidente da Saneago alegou que a
empresa está tomando providências, como a perfuração de poços profundos,
a ampliação e melhorias nos sistemas existentes e a continuidade da
obra do Sistema Produtor Corumbá, que pode atender cidades do Distrito
Federal e do entorno. Essa obra, explicou, tem complexidade elevada, o
que torna difícil a execução. A meta é atingir, na primeira etapa, 1,3
milhão de habitantes e, na segunda etapa, 2,9 milhões de habitantes.
Tanto o presidente da Adasa quanto o
professor Carlos Henrique reconheceram na crise uma oportunidade de
crescimento. O representante da agência disse que é hora de aumentar a
transparência e fortalecer a relação com a sociedade, com educação para
evitar o desperdício, por exemplo. Já o professor lembrou que obras
estruturais só costumam ser feitas em situações críticas, como a que
está sendo vivida agora.
Fonte: Agência Senado
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